Biografia: Kanhanga

Kanhanga foi o nome que escolhi para apresentar ao mundo a minha história, que começou no dia 06 de março de 1983, na cidade de Lobito, província de Benguela, Angola. Nascia Geraldino Canhanga do Carmo da Silva, mais um Filho de Deus, em uma família humilde e religiosa. O primeiro contato com a música aconteceu muito cedo, eu tinha sete anos e já cantava no coral dos adolescentes da Igreja católica. A vida me levou a outra religião, passei a freqüentar a igreja metodista, onde me batizei, mas a música foi comigo e cheguei a ser diretor do coral da juventude.

     Em 1994, veio o primeiro contato com o Hip Hop e, dois anos mais tarde, com amigos de
infância, o primeiro Grupo de Rap Kids Of Black (Kay B). As reuniões aconteciam sempre nas ruas, debaixo dos prédios, e eram sonorizadas pelo ritmo e pela poesia do Freestyle que rolava a noite toda. Em 1996, fui morar no interior da província de Benguela e fiquei dois anos longe da minha família, estudando no Internato "Joaquim Kapango". O exílio e a solidão serviram de inspiração para meu primeiro Rap, "Trágica Insônia", que teve uma forte influência da poesia popular angolana.

   
 De volta a Lobito, e ao Kay B,  comecei a viver da música e, por oito anos, o Kay B ditou o Rap nas províncias angolanas. Nesta mesma época, venci o concurso de Freestyle, realizado pela empresa de refrigerantes KISS, na cidade de Benguela. Um momento feliz que carrego comigo para onde vou.

     As conquistas nunca foram simples, mas eu sou Filho de Deus e jamais me abati. Em 2001,  perdi meu pai. Com todo o sofrimento, minha mãe me amparou. Ela era professora pública e tinha o sonho de ver cada filho com sua profissão. Graças a ela e a muito sacrifício, consegui terminar o Ensino Médio. Biologia e Química foi a minha especialização e o que isso tem a ver com Rap? Tudo. Sem vida, não há canção e sem química, não existe conexão.

     Em 2003, fui para Luanda, morar com meu irmão mais velho em busca de uma vida melhor.
A “vida melhor” chegou a se disfarçar de outras profissões. Quase abandonei a música para trabalhar como cobrador de Táxi, professor de base e segurança da empresa Bonsamba. Quase! Mas, eu sou Filho de Deus e foi ele que me trouxe de volta à música.

     Em 2005, por intermédio da Igreja Metodista Unida de Angola, ganhei uma Bolsa de Estudo no Sul do Brasil, para cursar Administração de Negócios Internacionais, no Centro Universitário IPA. Logo que cheguei, conheci vários grupos do Hip Hop Gaúchos e formei a família “MIGRANTES”, com Niclas Leman (Produtor) e Mário Wizzle. A banda ganhou muito destaque pela inovação no Rap e, além disso, contribuiu com o meteórico crescimento do movimento Hip Hop no Rio Grande do Sul. Assim, lancei a primeira Mix Tape solo de título Lobito,“ Entre Becus e Vilas” , com nove faixas e uma divulgação restrita à web. Participei do CD dos Novaments, cantei com Riztocrat (Seven Lox), Dependents, Divox, Episódio 1, Venark, Nego Gui, Nego Black, Lumi (Nigéria), B.Guerreiros, Cash Records, MC Fubu, Boss Dj, Punchproject e as bandas de pagode Novo Extima e RN5. A música começava a voltar com força total à minha vida, aglutinando o rap de melodia angolana com alguns ritmos brasileiros, como o pagode. Kanhanga, que aqui vos fala, começava, assim, a despontar no Sul do Brasil.

     Em 2007, outra perda quase me tirou de órbita. Minha mãe também se foi e com ela, quase
deixei escaparem as conquistas que se consolidavam no Brasil. Mais uma vez, eu dei a volta por cima. Eu sou Filho de Deus e, diante de toda a tristeza, em 2010, me formei Bacharel em Negócios Internacionais.

     Hoje, trabalho com projetos sociais e dedico a maior parte do meu tempo à música e, com ela, quero mostrar ao mundo que podemos lutar por dias melhores.

     Esta é a minha história e , apesar das dificuldades, o início da realização de um sonho, de um Projeto divino que tem nome e sobrenome: NARRADOR KANHANGA.

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